Num bar, sempre que chega alguma dessas princesinhas de cabelo comprido, decote e calça apertada, eu me apaixono instantaneamente.
Ela senta, dá uma arrumada no cabelo, puxa a calça para o cofrinho não aparecer e bebe cerveja com o dedinho levantado. Quando há o que comer na mesa, fica alguns segundos escolhendo com o palito o que pegar. Depois de um tempo olha pro nada e você logo imagina que ela está pensando na 'vagabunda' que está com o ex-namorado dela ou com o atual. Então ela saca o celular:
- Vamos tirar uma foto? - diz.
As pessoas do outro lado da mesa se arrumam. Ela levanta e eu fico observando a perfeição daquele corpo; vou logo tirando a roupa dela com os olhos... Ah... Desvio o olho para o fundo do meu copo e bebo a cerveja que resta de um gole só. Enquanto bebo, continuo olhando pelo espaço que o copo não ocupou. Peço mais uma, bem alto, pra ver se ela olha pra mim.
- Garçom, uma BOHEMIA, por favor - assim mesmo, acentuando a palavra BOHEMIA pra ela entender que você acha que a vida é curta demais pra beber cerveja barata.
Mas ela não vê. Senta, fica vendo as fotos... Então eu inicio a fase "olhar-de-maior-abandonado". Esqueço da cerveja e dos amigos e não desvio os olhos dela, até que, sem graça, ela percebe. E daqueles olhos tão lindos vem um olhar fulminante.
E agora, o que fazer?
Bebo mais uma cerveja, e percebo que as coisas ficaram um pouco mais coloridas.
Quando se trata de mulheres bonitas, os homens têm que escolher entre duas coisas: ou ele se torna inconveniente ou viado. Muitos acabam se frustrando com a quantidade de 'nãos' que tomam, ou com o desprezo vindo daqueles olhos tão lindos, e florescem. Outros não ligam e adotam o papel de inconveniente mesmo. Eu sou inconveniente.
Continuo olhando, apaixonado. Dou logo o nome para os nossos filhos: se for menina será "Sofia", se for homem... sei lá, algo bem comum tipo "Nietzsche". Será que ela topa?
Penso logo em nós dois andando de mãos dadas por um museu qualquer, diante de um pastoso Van Gogh ou um fascinante Dalí. O que será que ela faz? Estuda? Trabalha? Sabe quem é Jean-Paul Sartre?
(No fundo, estou pensando somente nela pelada, desfilando pra lá e pra cá. Mas meu inconsciente disfarça, pois se eu chegar perto dela pensando demais em sexo, vou logo caindo de boca naquele decote).
Me levanto. Arrasto a cadeira fazendo barulho e vou ao banheiro.
No banheiro - igreja de todos os bêbados - faço uma pequena oração pela nossa felicidade juntos. Dou uma olhada para o meu pênis e digo, mentalmente: "Tá vendo em que furada você estava se metendo? Isso é que é mulher, não aquela chata da ex. Essa bebe, não acha os barzinhos que você freqüenta sujos". Saio do banheiro e lavo a mão com cuidado, por que elas detestam homens que não lavam a mão quando saem do banheiro.
No pequeno trecho entre o banheiro e a mesa eu vou olhando para ela. Tropeço.
- Foi mau - digo para um babaca que se senta todo esparramado.
Quando vou chegando perto, vejo um indivíduo ao lado dela. Anh? Ele tá abraçando ela?
Como se não bastasse o filho-da-puta estar abraçando a mulher da minha vida, ainda dá uns beijinhos e no pescoço. Fico injuriado. Como pode essa princesa estar com um cara que usa gel, sai de casa com a camisa do sobrinho mais novo dele, e fica falando do "coríntia", assim mesmo, sem o 's' no final.
Definitivamente esse mundo está perdido. Aqui entra uma outra alternativa entre o ser viado ou inconveniente: ficar bêbado. Levanto o dedo indicador olhando para o garçom, e não dou uma palavra. O garçom aponta para a geladeira de cerveja. Eu, com a mão, faço que não e peço pra ele vir até a mesa. Ele chega, caneta e papel na mão.
- Um Red, por favor – digo, sobrancelhas juntas como de um personagem mal da novela das 8.
Depois de umas duas doses eu fico mais inconveniente que antes, e acabo dando cantada nalguma feinha também meio bêbada. Mas nunca me lembro, então foda-se.